Ainda ao prof. Adrualdo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Por não conseguir postar o comentário diretamente na última postagem por conta de um erro b-x9-não-sei-o-que-lá, em resposta ao comentário do prof. resolvi postá-lo como postagem. Lembro-me que certa feita uma postagem semelhante aconteceu no antigo blogue do professor em relação a um comentário meu. O acaso acabou dando a oportunidade de retribuir a gentileza. Aí vai.

Caro professor,

Primeiramente, agradeço a visita e a resposta. Tais atitudes apenas ressaltam as referências que fiz à sua pessoa. Respondo, também, não no interesse de levar o debate para sempre, mas apenas para manter o diálogo, ressaltando acordos e dissensos. Acredito, inclusive, que debates como esses não se esgotam apenas no campo do debate, se é que me faço entender assim.

De fato, partimos de um abismo semântico. Mas acredito que o abismo pode ser ainda maior. Pode estar, inclusive, no próprio entendimento de como uma palavra relaciona-se com seu significado e mesmo com a coisa que pretende significar. Esta é uma discussão que transborda por demais a questão, no entanto. O que é central, e apenas cito de forma bastante superficial, é que, se bem entendi, vejo no conceito que usas para definir violência muito mais confusão do que explicação. Segundo ele, mesmo atividades identificadas à desobediência civil de Gandhi, por exemplo, podem ser tidas como violentas. Até as campanhas anti-guerras norte-americanas na época do Vietnã podem ser violentas, já que ocupavam praças, faziam festivais musicais com larga potência sonora, fechavam ruas etc. O mesmo se pode dizer das campanhas por direitos cívicos do mesmo país e na mesma época dos homossexuais deflagradas a partir das mobilizações de Stonewall, por exemplo. E, neste caso, não estamos falando de um país com algo que se poderia classificar de "pouca democracia", ou mesmo tão diferente, em essência, do regime que vivemos hoje.

Não coloco que a democracia é uma formalidade. Justamente o contrário. Ela vai além delas. Isto não a identifica ao comunitarismo, às gestões plebiscitárias ou nada disto, mas a um processo sócio-histórico-político muito mais intrincado e que merece um olhar pormenorizado de suas universalidades e particularidades. O que pode ser plebiscitarismo na Venezuela, pode não ser na UFAL (claro que não foi isto que você quis dizer e, ainda deixando claro, não tenho a mesma opinião acerca do caso venezuelano apesar de também não ser um apoiador de Chávez).

Na minha opinião, isto abre sim margem a discussões acerca da maneira como a democracia é entendida. A questão paritária dos conselho que você levanta, captando bem meu texto, é um exemplo importante. A forma de gestão da Universidade, ainda hoje, carrega traços de momentos com muito menos experiência democrática. No entanto, em questões formais, ela é absolutamente legítima. Estes são os conceitos que estão em constante conflito no caso. Foi o que tentei levantar.

Quanto à criminalização, uma questão que gostaria de ter discutido no texto, mas resolvi não o fazer por seu volume já demasiado para os objetivos dele, acredito que, aí também, reside uma discussão inacabada! Apenas para citá-la: a própria criminologia liberal aponta que o crime não é uma realidade em-si, mas um "status" conferido a determinada situação extremamente particular. Partindo-se da teoria do interacionismo simbólico percebe-se que, mesmo a situações altamente semelhantes pode-se ou não conferir o "status" de crime, e o "status" de criminoso aos agentes envolvidos. Uma gama longa de autores criminólogos (Rusche, Kircheimmer, Baratta e mesmo Foucault) vem a esclarecer como este "etiquetamento" de criminoso passa por uma gama de agências (escolas, igrejas, assistência social, cárcere etc.) recrutando uma longa camada populacional bastante selecionada para o papel de pessoas que merecem ser punidas. Deixam claro, também, que as atitudes dos agentes infratores contam menos que os interesses dos agentes punitivos. Arno Dal Ri Júnior (UFSC) possui um excelente trabalho que investiga como a criação de um inimigo público comum, bem identificável a "baderneiros", "agitadores", "terroristas" e uma série de outros adjetivos (não afirmo que são utilizados por você, claro), vem a calhar neste processo que muitos identificam à defesa da democracia, mas costuma servir de pretexto para diminuição de garantias democráticas. Por isto, também, a preocupação em comparar os discursos, com a ressalva expressa, que me preocupei em fazer, à diferença dos contextos em que se dão, apesar de, no entanto, possuírem uma ampla gama de semelhanças, não só nos vocábulos, mas nas situações empregadas (estudantes, atos e protestos, reforma universitária etc.)

Quanto ao caso da FDA, talvez estejamos falando sim de fatos diferentes. Não me lembro de algo como "professores de verdade" ser citado. Mas para a discussão não cair em um jogo de "lembro-não-lembro" ressalto que isto não faz tanta diferença. O que lembro é de uma atitude excessiva por parte de um lado que tolheu o direito por parte de outro de maneira ilegitima, inclusive com falas como: "só você fala aqui?!". É claro que esta é uma questão de passagem, mas para esclarecer, as ironias do texto podem ter confundido, eu não acho que a decisão da FDA foi democrática quanto ao ReUni. Eu não acho, inclusive, que qualquer decisão tomada na UFAL o foi. Mesmo as que se posicionaram contra a adesão ao ReUni, apesar de contar com maior fronteira democrática em alguns casos (no caso do Instituto de Ciências Sociais e do Colegiado de História, por exemplo, foram tomadas em assembléias contando não apenas com os conselheiros, mas com uma gama maior de participantes da comunidade acadêmica) ainda estiveram restritas a formalidades semelhantes.

Quanto à partidarização do Movimento Estudantil, concordo que em inúmeros casos ela pode levar a problemas. Mas tenho certeza de que é também de sua opinião, que pior seria uma sociedade política que não permitisse a filiação do cidadão ao partido de sua escolha. Se o estudante é cidadão o suficiente para ser punido por um crime, por exemplo, o é também para construir uma ferramenta partidária de sua opção. Esclareço que em cinco anos de universidade, dos quais todos tiveram determinado tempo dedicado ao Movimento Estudantil, nunca estive filiado a qualquer partido político. Igualmente, no entanto, nunca fui radicalmente contra a participação dos mesmos no seio do movimento. Acredito que o problema se dá quando o movimento perde sua autonomia para as pautas dos partidos. Se este é o sentido que você aplica, talvez concordemos neste caso. No entanto, se o movimento é partidarizado, isto não ocorre porque seus membros são todos filiados a determinado partido. O que vale, também, para os membros da administração da UFAL. A gestão não precisa ser filiada ao partido do governo para agir de forma partidarizada com ele. Neste sentido, todas as atitudes dos dois mandatos da Reitoria a qual nos referimos seguiu, à risca, as políticas colocadas pelo Governo Federal para as universidades. Isto também é agir partidariamente e não é o que torna anti-democrática a participação nos espaços de decisão acadêmicos. As decisões puramente técnicas, inclusive, costumam ser de uma exceção impressionante. Geralmente elas vêm atreladas a um debate político por trás. E este debate também é sempre capitaneado, ou pelo menos conta com a adesão, de algum partido político, afinal esta é a função dos próprios.


De qualquer maneira, é um debate que continua.

Posto o comentário aqui no blogue apenas para manter este debate ainda público, o que considero importante.

Mas envio a seu e-mail a resposta, para poupá-lo da preocupação de ainda mais visitas à página. Ressaltando, sempre, que tanto elas, quanto a leitura e os comentários são sempre bem vindos e trazem grande satisfação.

Grande abraço.

Eli M.



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