Por que Socialismo?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Texto de Albert Einstein escrito para a primeira edição da revista da esquerda norte-americana Monthly Review. Trata de forma bastante introdutória de importantes questões acerca do Socialismo e de porque o cientista acreditou que esta seria uma real possiblidade, e mesmo a melhor, para a humanidade.

Por que Socialismo?

Albert Einstein

Maio 1949


Primeira Edição: Monthly Review, nº 1, maio 1949.
Origem da presente Transcrição: Monthly Review.


É aconselhável que alguém que não é um especialista em assuntos econômicos e sociais expresse suas opiniões acerca do tema do socialismo? Creio, por uma quantidade de razões, que sim.

Consideramos primeiramente a questão desde o ponto de vista do conhecimento científico. Poderia parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas de ambos os campos tentam descobrir leis de aceitabilidade geral para um grupo circunscrito de fenômenos com o objetivo de fazer a interconexão destes fenômenos tão claro quanto for possível. Mas na realidade tais diferenças existem. O descobrimento de leis gerais em economia se complica pela circunstância de que os fenômenos econômicos observados são freqüentemente influenciados por muitos fatores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência que se acumulou desde o princípio do chamado período civilizado da história humana tem sido — como é sabido — grandemente influenciada e limitada por causas cuja natureza não são de nenhum modo exclusivamente econômicas. Por exemplo, a maior parte dos Estados na história devem sua existência à conquista. Os povos conquistadores se estabeleceram, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Atribuíram-se o monopólio da posse da terra e designaram para o sacerdócio alguém de suas fileiras. Os sacerdotes, com o controle da educação, fizeram da divisão de classes da sociedade uma instituição permanente e criaram um sistema de valores mediante o qual dali em diante o povo foi, em grande medida inconscientemente, guiado em sua conduta social.

Mas a tradição histórica é, por assim dizer, de ontem; em nenhuma parte temos realmente superado o que Thorstein Veblen chamou de “a fase depredadora” do desenvolvimento humano. Os feitos econômicos observáveis pertencem a esta fase e suas leis não são aplicáveis a outras fases. [Primeiro] Dado que o propósito real do socialismo é superar e avançar além da fase depredadora do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu estado atual não pode deixar muita luz sobre a sociedade socialista do futuro.

Segundo, o socialismo está dirigido para um fim social-ético. A ciência, sem embargo, não pode criar fins nem, ao menos, induzí-los nos seres humanos. Mas os fins em si mesmos são concebidos por personalidades com elevados ideais éticos — estes propósitos não são rígidos senão vitais e vigorosos — são adotados e levados adiante por aqueles muitos seres humanos que — quase inconscientemente — determinam a lenta evolução da sociedade.

Por estas razões, deveríamos estar atentos a não sobrestimar a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos, e não deveríamos assumir que os especialistas são os únicos que têm direito e expressar-se sobre as questões da organização da sociedade.

Inumeráveis vozes têm afirmado desde já algum tempo que a sociedade humana está passando por uma crise, que sua estabilidade está gravemente prejudicada. É característico desta situação que alguns indivíduos se sintam indiferentes, ou integrados, ou hostis ao grupo que pertencem, seja ele grande ou pequeno. Para ilustrar este ponto, deixem-me registrar aqui uma experiência pessoal. Recentemente discuti com um homem inteligente e bem disposto a ameaça de outra guerra, a que em minha opinião colocaria seriamente em perigo a existência da humanidade, e comentei que somente uma organização supranacional poderia proteger-nos daquele perigo. Depois, o homem, calmamente e friamente, me disse: “Por que você se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”

Estou seguro que apenas um século atrás ninguém teria afirmado tão levianamente algo semelhante. É a declaração de um homem que se esforçou em vão para alcançar um equilíbrio interior e basicamente perdeu a esperança de alcançá-lo. É a expressão de uma solidão e isolamento de que muita gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Tem uma saída?

É fácil fazer estas perguntas, mas é difícil respondê-las com alguma segurança. Devo tratar, contudo, da melhor maneira que se pode, mesmo eu sendo consciente da ação de nossos sentimentos e esforços que podem ser contraditórios e obscuros e que não podem ser expressados em fórmulas fáceis e simples.

O homem é, ao mesmo tempo, um ser solitário e um ser social. Como ser solitário, busca proteger sua própria existência e aqueles que são mais próximos, para satisfazer seus desejos pessoais e desenvolver suas habilidades inatas. Como ser social, busca conquistar o reconhecimento e o afeto de seus semelhantes para compartilhar o seu prazer, confortá-los com sua solidariedade e melhorar suas condições de vida. Só a existência destes esforços, freqüentemente em conflito, podem dar conta do caráter especial do homem, e sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode alcançar o equilíbrio interior e contribuir para o bem estar da sociedade. É bem possível que a força relativa destes dois impulsos diversos esteja, basicamente, fixada pela herança. Mas a personalidade que finalmente emerge está em grande medida formada pelo entorno em que o homem se encontra durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição desta sociedade, e por sua valoração de diversos tipos de condutas. O conceito abstrato “sociedade” significa para o indivíduo a soma de suas relações, diretas e indiretas, desde os seus contemporâneos até as gerações anteriores. O individuo é capaz de pensar, sentir, atuar, e trabalhar por si mesmo, mas sua dependência da sociedade é tanta — em sua existência emocional e intelectual — que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora do marco da sociedade. É a “sociedade” quem lhe proporciona comida, roupas, ferramentas de trabalho, linguagem, as formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; sua vida se faz possível graças ao trabalho e às conquistas dos muitos milhões, contemporâneos e antepassados, que estão escondidos detrás da pequena palavra “sociedade”.

É evidente então que a dependência do indivíduo pela sociedade é um feito natural que não pode ser abolido — exatamente como no caso das formigas e das abelhas. Sem dúvida, enquanto todas as ações das formigas e das abelhas estão fixadas até o menor detalhe por instintos rígidos e hereditários, os capatazes sociais e as interrelações dos seres humanos são muito variáveis e suscetíveis à mudança. A memória, a capacidade de realizar novas combinações, o dom da comunicação oral têm feito possíveis desenvolvimentos nos seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos se manifestam nas tradições, nas instituições e nas organizações; na literatura; nos avanços científicos e nos engenhos; nas obras de arte. Isto explica como ocorre que, em certo sentido, o homem possa influir sobre sua vida através de sua própria conduta e que neste processo o pensamento e os desejos conscientes são muito importantes.

O homem adquire ao nascer, por meio de herança, uma continuação biológica que é fixa e inalterável, que inclui os impulsos naturais que são característicos da espécie humana. Ademais, adquire durante sua vida uma constituição cultural que adota da sociedade por meio da comunicação e através de muitas outras formas. É esta constituição cultural que, com o passar do tempo, está sujeita às mudanças e que determina em grande medida a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, usando o estudo das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode apresentar grandes diferenças, dependendo dos padrões culturais prevalecentes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que podem fundar suas esperanças aqueles que se esforçam em melhorar as condições dos homens: os seres humanos não estão condenados, por sua constituição biológica, a aniquilarem-se uns aos outros, ou à mercê de um destino cruel e de castigos.

Se nos perguntamos como deveriam ser transformadas a estrutura da sociedade e a atitude do homem para fazer a vida tão satisfatória como possível, deveríamos estar conscientes de que somos incapazes de modificar certas condições. Como foi mencionado antes, a natureza biológica do homem não está, a todos efeitos práticos, sujeita à mudanças. Ademais, as condições criadas pelos desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos chegaram para ficar. Nos locais com população relativamente densa, com os produtos que são necessários para sua existência, uma profunda divisão do trabalho e um aparato altamente centralizado são absolutamente necessários. Os tempos – que em perspectivas parecem tão idílicos – em que homens ou grupos pequenos podiam ser completamente auto-suficientes se foram para sempre. É apenas um leve exagero dizer que a humanidade já constitui uma comunidade planetária de produção e consumo.

É alcançado agora o ponto aonde posso indicar brevemente o que para mim constitui a essência da crise de nosso tempo. Está relacionado com o individuo e sua relação com a sociedade. O indivíduo está mais consciente do que nunca de sua dependência da sociedade. Mas não sente esta dependência como um traço positivo, como um laço orgânico, como uma força protetora, mas uma ameaça a seus direitos naturais, ou a sua existência econômica. Por outro lado, sua posição na sociedade é tal que os impulsos egocêntricos de sua constituição são constantemente acentuados, enquanto que seus impulsos sociais, naturalmente mais débeis, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, em qualquer posição da sociedade, sofrem este deterioramento progressivo. Involuntários prisioneiros de seu próprio egocentrismo se sentem inseguros e privados do mais inocente e simples desfrute da vida. O homem só pode encontrar o sentido da vida, curta e perigosa como é, consagrando a sociedade.

A anarquia econômica da sociedade capitalista de hoje em dia é, em minha opinião, a verdadeira fonte dos males. Vemos diante de nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros se esforçam incessantemente em privar o outro dos frutos de seu trabalho coletivo — não pela força mas cumprindo inteiramente as regras legalmente estabelecidas. A este respeito é importante dar-se conta de que os meios de produção — isto é: toda a capacidade produtiva necessária para produzir bens de consumo assim como bens de capital adicionais — podem ser — e em sua maioria o são efetivamente — a propriedade privada de alguns indivíduos.

Para simplificar, na discussão que se segue chamarei “trabalhadores” os que participam na propriedade dos meios de produção, apesar de isto não corresponder ao uso corrente do termo. Usando os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que transformam-se em propriedade do capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que lhe pagam, ambos medidos em termos de valor real. Em quanto o contrato do trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe está determinado não pelo valor real dos bens que produz mas por suas necessidades mais básicas e pela necessidade de força de trabalho por parte dos capitalistas em relação ao número de trabalhadores competindo por empregos. É importante entender que nem sequer na teoria o salário do trabalhador é determinado pelo valor do que produz.

O capital privado tende a se concentrar em poucas mãos, em parte devido à competência entre os capitalistas, e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho alentam a formação de unidades maiores de produção em detrimento das menores. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado cujo enorme poder não pode ser controlado efetivamente nem sequer por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é assim porque os membros dos corpos legislativos são selecionados pelos partidos políticos, em grande medida financiados ou de alguma maneira influenciados por capitalistas privados que, por todos efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A conseqüência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses dos grupos não privilegiados da população. Por outra parte, nas condições atuais os capitalistas privados controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa escrita, rádio, educação). É então extremamente difícil, e por certo impossível na maioria dos casos, que cada cidadão possa chegar às conclusões objetivas e fazer uso inteligente de seus direitos políticos.

A situação prevalecente em uma sociedade baseada na propriedade privada do capital está então caracterizada por dois princípios mestres: primeiro, os meios de produção são propriedade de indivíduos, e estes dispõem deles como melhor lhes parecer; segundo, o contrato de trabalho é livre. Supostamente, não existe sociedade capitalista pura, neste sentido. Em particular, deve-se assinalar que os trabalhadores, por meio de grandes e amargas lutas políticas, tem conseguido uma forma um tanto melhorada do “livre contrato de trabalho” para certas categorias de trabalhadores. Mas, tomada como um todo, a economia atual não difere muito do capitalismo “puro”.

Esta mutilação dos indivíduos é o que considero o pior mal do capitalismo. Nosso sistema educativo como um todo sofre este mal. Uma atitude exageradamente competitiva se inculca no estudante, que é treinado para adorar o êxito da aquisição como uma preparação para sua futura carreira.

Estou convencido de que há somente uma forma de eliminar estes graves malefícios: através do estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional que seja orientado para fins sociais. Em tal economia, os meios de produção são propriedade da própria sociedade e utilizados de maneira planejada. Uma economia planejada, que ajuste a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho entre todos aptos a trabalhar e garantiria os meios de vida de todos, homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de promover suas próprias habilidades inatas, intentaria desenvolver em um sentido de responsabilidade por seu próximo, em lugar da glorificação do poder e do êxito em nossa sociedade atual.

Sem embargo, é preciso recordar que uma economia planificada não é todavia o socialismo. Uma economia planificada como tal pode ser acompanhada pela completa escravização do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sócio-políticos extremamente difíceis: “como é possível, considerando a muito abarcadora centralização do poder, conseguir que a burocracia não seja todo poderosa e arrogante? Como podem proteger os direitos do indivíduo e mediante ele assegurar um contrapeso democrático ao poder da burocracia?”

Ter claras as metas e problemas do socialismo é de grande importância nesta época de transição. Dado que, nas circunstâncias atuais, a discussão livre e sem travas destes problemas são um grande tabú, considero a fundação desta revista [N2] um importante serviço público.


Notas:

[N1] Este texto, originalmente intitulado “Why Socialism?”, foi escrito por Einstein para o primeiro número (1949) da revista marxista estadunidense Monthly Review. O texto, em sua versão na língua inglesa, pode ser consultado pelo http://www.monthlyreview.org/598einst.htm. Também há uma versão em espanhol disponível em http://www.rebelion.org/noticia.php?id=24924. (Nota do Tradutor) (retornar ao texto)

[N2] A revista marxista estadunidense “Monthly Review”. (retornar ao texto)


II Encontro de Grupos de Estudos e Pesquisas Marxistas - Dia 3

segunda-feira, 7 de junho de 2010

II Encontro de Grupos de Estudos e Pesquisas Marxistas

Recife, de 24 a 26 de Maio


Fiquei devendo o relato do terceiro dia de encontro durante semanas! Tardando, mas não falhando, aqui vai ele.

Durante a manhã do dia 26 não pude acompanhar os debates, pois o cansaço do dia anterior, acumulado com o da viagem, acabou forçando com que eu permanecesse na cama. Acabei perdendo as exposições de Rubineusa Leandro, MST-PE, Antônio Morgação, PCB e Movimento Hip-Hop, e Christine Dabat, UFPE. Por relatos que tive, a participação da representante do MST na mesa foi exemplar, com direito a polêmica acerca do sujeito revolucionário e defesa da tese de Sérgio Lessa a partir de citação direta de Ivo Tonet. A polêmica teria sido levantada após intervenção do prof. Daniel Rodrigues (PSOL-PE e UFPE).

Consegui, no entanto, acompanhar a reunião de discussão do próximo EpMarx e de integração dos pesquisadores marxistas. As discussões, dessa vez melhor encaminhadas e sistematizadas, se deram já em torno de quais eixos seriam discutidos no encontro a ser organizado.

Em termos de temas, os três eixos escolhidos foram: Teorias Marxistas, uma tentativa de continuar o debate acerca do sujeito revolucionário, da questão do trabalho e do legado das diversas tradições marxistas; Crítica do Neo-Idealismo e do Neo-Reformismo, uma proposta de discussão crítica com as teorias pós-estruturalistas e neo-liberais; Experiências Socialistas, críticas e perspectivas, eixo que reúne a sugestão do prof. Ivo Tonet sobre a discussão acerca da transição socialista e do Estado, com as inquietações dos demais participantes acerca das relações entre marxismo, política e emancipação.

Em relação ao local do próximo encontro terminou-se por ser decidido que a UFPE e o GEMA sediaram mais uma vez a iniciativa. Tal conclusão deu-se pelo mérito do próprio GEMA, mais a estrutura que a UFPE dispõe em termos de alojamento. A experiência em organização do grupo pernambucano também foi preponderante para a resolução.

Em relação à data, o mês de maio foi escolhido como um indicativo. Fico pensando que uma boa data específica seria o 05 de Maio: aniversário de Marx e que, oportunamente, cairá numa quinta-feira no próximo ano, o que permitiria uma discussão que se alongasse pelo fim de semana (pelo menos o sábado), reduzindo os custos curriculares e profissionais em termos de faltas e perda de atividades, por exemplo. Além, claro, da significação simbólica da data para o próprio tema a ser discutido no encontro.

De qualquer maneira, a organização deve permanecer em discussão de todas estas questões. O prof. Daniel Rodrigues, com clara atitude pioneira na questão, propôs discussões através de e-mails para que o contato entre os participantes não fosse perdido. O prof. Sóstenes (UFAL-Arapiraca) propôs que o próximo encontro possua, também, grupos de trabalhos para a discussão das construções temáticas e organizativas dos próximos EpMarx, colocando a preocupação de que o encontro se tornasse, de fato, um evento permanente no calendário dos pesquisadores marxistas, pelo menos, no nível do Nordeste. A reunião contou com a presença, também, de acadêmicos da Bahia, Piauí, Paraíba e Ceará, além de movimentos sociais e partidos políticos como Hip-Hop, MST-Expressão Popular, PSOL, PCB, Consulta Popular etc.

Da delegação alagoana saiu, pelo menos, a vontade de construção de um pré-encontro envolvendo os diversos pólos da UFAL e os movimentos sociais do estado. No entanto, até o momento nenhuma articulação organizativa efetiva foi tomada.

Durante a tarde, tivemos a mesa de discussão de tema Desafios da Formação sob a Perspectiva Marxista, com os professores Erlênia Sobral (UECE) e Ivo Tonet (UFAL). A intervenção da professora da universidade cearense deu-se em torno da questão da alienação à qual é submetida toda a produção intelectual na presente quadra histórica. Fora isso, pontuou a alienação à qual são submetidos mesmo os indivíduos e daí a dificuldade de uma percepção crítica frente à realidade.

Prof. Ivo Tonet aproveitou a mesa para expor suas polêmicas com outros intelectuais que participaram do encontro. Sua postura é de que é impossível um complexo educacional, com o significado que esta expressão impõe, que, de fato, forme revolucionários. No presente, apenas algumas práticas educativas que apontem para a emancipação podem ser desenvolvidas. Concomitantemente, ele discorda de que é a socialização do conhecimento que poderá libertar a humanidade do capital. Pelo contrário, o prof. é da opinião de que há um conhecimento específico, instaurado pelo método de Marx, que permite ver a necessidade e a possibilidade da revolução socialista. Portanto, não bastaria aprender Aristóteles e Kant, mas aprender eles sob uma perspectiva específica: aquela posta pelo materialismo histórico-dialético.

Pareceu-me que a polêmica dirigiu-se, também, a outro ponto específico: a defesa feita pelos profs. Newton Duarte e Epitácio Macário, da socialização do conhecimento como requisito para a revolução. Para o prof. Ivo Tonet, esta socialização seria impossível sem a própria revolução. Portanto, o necessário, hoje, para os intelectuais revolucionários, seria a da melhor formulação possível sob a perspectiva revolucionária de Marx, em serviço do real sujeito revolucionário, o proletariado.

A mesa foi a última atividade do encontro, sem contar a festa de confraternização em Olinda, da qual não participei, mas obtive notícias divertidíssimas. Julgo que o encontro obteve sucessos parciais em relação a seus objetivos, o que torna o resultado geral como positivo. Em questões de números, por exemplo, contou-se com 186 inscritos e nove estados diferentes, não apenas nordestinos, havendo participantes do Sudeste e do Sul do país.

O maior resultado foi a integração dos pesquisadores, pelo menos, a nível de Nordeste. Podemos estar vendo o surgimento de uma articulação que, ressalvadas as proporções, pode representar para os marxistas nordestinos o que são os encontros CeMarx (UniCamp) e os Seminários da UnEsp Marília. No fim, uma boa oportunidade para a construção do conhecimento revolucionário por essas bandas. Digo que o sucesso foi parcial porque o mais difícil já foi feito: reunir os grupos marxistas e pôr na mesa as pretensões de construção conjunta. Falta, agora, a parte mais fácil: aproveitar os impulsos que já foram dados e honrar as tarefas teóricas e práticas da construção dos próximos encontros e pré-encontros. Posso estar sendo demais otimista, mas sinto cheiro de sucesso.