II Encontro de Grupos de Estudos e Pesquisas Marxistas - Dia 3

segunda-feira, 7 de junho de 2010

II Encontro de Grupos de Estudos e Pesquisas Marxistas

Recife, de 24 a 26 de Maio


Fiquei devendo o relato do terceiro dia de encontro durante semanas! Tardando, mas não falhando, aqui vai ele.

Durante a manhã do dia 26 não pude acompanhar os debates, pois o cansaço do dia anterior, acumulado com o da viagem, acabou forçando com que eu permanecesse na cama. Acabei perdendo as exposições de Rubineusa Leandro, MST-PE, Antônio Morgação, PCB e Movimento Hip-Hop, e Christine Dabat, UFPE. Por relatos que tive, a participação da representante do MST na mesa foi exemplar, com direito a polêmica acerca do sujeito revolucionário e defesa da tese de Sérgio Lessa a partir de citação direta de Ivo Tonet. A polêmica teria sido levantada após intervenção do prof. Daniel Rodrigues (PSOL-PE e UFPE).

Consegui, no entanto, acompanhar a reunião de discussão do próximo EpMarx e de integração dos pesquisadores marxistas. As discussões, dessa vez melhor encaminhadas e sistematizadas, se deram já em torno de quais eixos seriam discutidos no encontro a ser organizado.

Em termos de temas, os três eixos escolhidos foram: Teorias Marxistas, uma tentativa de continuar o debate acerca do sujeito revolucionário, da questão do trabalho e do legado das diversas tradições marxistas; Crítica do Neo-Idealismo e do Neo-Reformismo, uma proposta de discussão crítica com as teorias pós-estruturalistas e neo-liberais; Experiências Socialistas, críticas e perspectivas, eixo que reúne a sugestão do prof. Ivo Tonet sobre a discussão acerca da transição socialista e do Estado, com as inquietações dos demais participantes acerca das relações entre marxismo, política e emancipação.

Em relação ao local do próximo encontro terminou-se por ser decidido que a UFPE e o GEMA sediaram mais uma vez a iniciativa. Tal conclusão deu-se pelo mérito do próprio GEMA, mais a estrutura que a UFPE dispõe em termos de alojamento. A experiência em organização do grupo pernambucano também foi preponderante para a resolução.

Em relação à data, o mês de maio foi escolhido como um indicativo. Fico pensando que uma boa data específica seria o 05 de Maio: aniversário de Marx e que, oportunamente, cairá numa quinta-feira no próximo ano, o que permitiria uma discussão que se alongasse pelo fim de semana (pelo menos o sábado), reduzindo os custos curriculares e profissionais em termos de faltas e perda de atividades, por exemplo. Além, claro, da significação simbólica da data para o próprio tema a ser discutido no encontro.

De qualquer maneira, a organização deve permanecer em discussão de todas estas questões. O prof. Daniel Rodrigues, com clara atitude pioneira na questão, propôs discussões através de e-mails para que o contato entre os participantes não fosse perdido. O prof. Sóstenes (UFAL-Arapiraca) propôs que o próximo encontro possua, também, grupos de trabalhos para a discussão das construções temáticas e organizativas dos próximos EpMarx, colocando a preocupação de que o encontro se tornasse, de fato, um evento permanente no calendário dos pesquisadores marxistas, pelo menos, no nível do Nordeste. A reunião contou com a presença, também, de acadêmicos da Bahia, Piauí, Paraíba e Ceará, além de movimentos sociais e partidos políticos como Hip-Hop, MST-Expressão Popular, PSOL, PCB, Consulta Popular etc.

Da delegação alagoana saiu, pelo menos, a vontade de construção de um pré-encontro envolvendo os diversos pólos da UFAL e os movimentos sociais do estado. No entanto, até o momento nenhuma articulação organizativa efetiva foi tomada.

Durante a tarde, tivemos a mesa de discussão de tema Desafios da Formação sob a Perspectiva Marxista, com os professores Erlênia Sobral (UECE) e Ivo Tonet (UFAL). A intervenção da professora da universidade cearense deu-se em torno da questão da alienação à qual é submetida toda a produção intelectual na presente quadra histórica. Fora isso, pontuou a alienação à qual são submetidos mesmo os indivíduos e daí a dificuldade de uma percepção crítica frente à realidade.

Prof. Ivo Tonet aproveitou a mesa para expor suas polêmicas com outros intelectuais que participaram do encontro. Sua postura é de que é impossível um complexo educacional, com o significado que esta expressão impõe, que, de fato, forme revolucionários. No presente, apenas algumas práticas educativas que apontem para a emancipação podem ser desenvolvidas. Concomitantemente, ele discorda de que é a socialização do conhecimento que poderá libertar a humanidade do capital. Pelo contrário, o prof. é da opinião de que há um conhecimento específico, instaurado pelo método de Marx, que permite ver a necessidade e a possibilidade da revolução socialista. Portanto, não bastaria aprender Aristóteles e Kant, mas aprender eles sob uma perspectiva específica: aquela posta pelo materialismo histórico-dialético.

Pareceu-me que a polêmica dirigiu-se, também, a outro ponto específico: a defesa feita pelos profs. Newton Duarte e Epitácio Macário, da socialização do conhecimento como requisito para a revolução. Para o prof. Ivo Tonet, esta socialização seria impossível sem a própria revolução. Portanto, o necessário, hoje, para os intelectuais revolucionários, seria a da melhor formulação possível sob a perspectiva revolucionária de Marx, em serviço do real sujeito revolucionário, o proletariado.

A mesa foi a última atividade do encontro, sem contar a festa de confraternização em Olinda, da qual não participei, mas obtive notícias divertidíssimas. Julgo que o encontro obteve sucessos parciais em relação a seus objetivos, o que torna o resultado geral como positivo. Em questões de números, por exemplo, contou-se com 186 inscritos e nove estados diferentes, não apenas nordestinos, havendo participantes do Sudeste e do Sul do país.

O maior resultado foi a integração dos pesquisadores, pelo menos, a nível de Nordeste. Podemos estar vendo o surgimento de uma articulação que, ressalvadas as proporções, pode representar para os marxistas nordestinos o que são os encontros CeMarx (UniCamp) e os Seminários da UnEsp Marília. No fim, uma boa oportunidade para a construção do conhecimento revolucionário por essas bandas. Digo que o sucesso foi parcial porque o mais difícil já foi feito: reunir os grupos marxistas e pôr na mesa as pretensões de construção conjunta. Falta, agora, a parte mais fácil: aproveitar os impulsos que já foram dados e honrar as tarefas teóricas e práticas da construção dos próximos encontros e pré-encontros. Posso estar sendo demais otimista, mas sinto cheiro de sucesso.


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