Conservando a lama só no Mangue!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Você já se imaginou com um notebook no meio de um manguezal? Sim, é uma coisa tão absurda que a própria pergunta parece ter só uma resposta: "Oxe...". Mas daí vem o complemento: O manguezal tem um sinal de internet wireless. Algumas pessoas achariam que aí sim tem sentido estar com o notebook por lá. Outras acharão que um Mangue Wireless é um sem sentido completo.

Bem, o fato é que existe tanta gente no mundo, que, com certeza, várias pessoas já pensaram várias coisas que você nunca nem imaginou. Inclusive, você mesmo já teve diversas idéias tão esdrúxulas que talvez só tenham surgido, unicamente, da sua cabeça mesmo.

Mas as coisas mudam quando estas idéias absurdas surgem na cabeça de pessoas que gostam tanto do absurdo que são capazes de colocá-lo em prática. E essa é a história do blog Mangue Wireless e de seu excêntrico lema: Conservando a lama só no Mangue!

Um blog coletivo, que tem o objetivo de discutir as coisas de dentro e de fora do Mangue. Em verdade, muito mais as de fora que as de dentro, mas nunca se sabe. Enfim, para conhecer mais recomendo que visite o tal do manguezal e leia o Manifesto Editoral! que está postado lá.

Não esqueça das galochas...

O Direito, o Positivismo e as devidas ressalvas.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

No Movimento Estudantil de Direito (MED) e entre os juristas que se prestam a cultivarem um posicionamento progressista é conhecida a postura que busca uma reflexão crítica acerca do papel do direito na sociedade. Em larga medida, na verdade, procura-se mesmo a construção de um saber que se preste a desvendar a função cumprida pelo ordenamento jurídico no capitalismo. Esta necessidade de responder a este questionamento básico acaba por desdobrar-se em uma série de correntes, mais ou menos avançadas, sobre como devem os juristas progressistas relacionar-se com o direito.

Entre os conceitos criados a partir destas reflexões o de Direito Alternativo é o mais caro, e, talvez, o que mais precise ser dilapidado atualmente. Em linhas gerais, o Direito Alternativo encontrou, em seu desenvolvimento duas subdivisões: o Direito Alternativo, propriamente dito, e o Uso Alternativo do Direito.

Pude participar do I Encontro Nacional da Rede Popular de Estudantes de Direito (REPED) e ver o quanto esta oposição precisa ser melhor explorada pelo MED e por aqueles que buscam a construção de uma Ciência do Direito e de uma Educação Jurídica que avance no combate às contradições sociais. O debate do Direito Alternativo propriamente dito é, visivelmente, mais hegemônico entre os juristas de esquerda.

Tentando delinear de maneira geral este conceito, o Direito Alternativo propriamente dito busca conferir legitimidade ao que seriam manifestações jurídicas para além do Estado. Esta seria uma forma de combater o positivismo no direito, que reconhece enquanto legítimas apenas as normas postas pela entidade estatal, o que, em última instância seria uma maneira de dominação por parte da classe dominante, já que é a ela que serve o Estado. A partir daí, porcurar-se-ia a legitimidade do direito construído em diversas esferas ou, como diria uma expressão muito utilizada nestes meios, do direito achado nas ruas que pode chegar aonde o direito estatal não chega e, até mesmo, contradizê-lo.

Por via diversa, o Uso Alternativo do Direito consubstancia-se no conhecido Positivismo de Combate. É, na verdade, uma postura do profissional do direito que procura explorar as contradições do sistema jurídico afim de defender os interesses sociais das classes subalternas e oprimidas. Uma maneira de fazer a máquina do judiciário rodar suas engrenagens em um sentido que lhe seria estranho: a defesa dos trabalhadores. O Uso Alternativo do Direito não se preocupa em provar a legitimidade de relações que se demonstrem enquanto jurídicas mas que tenham sido postas por fora das regras impostas pelo Estado.

As diferenças são sutis, mas esta sutileza não justifica o entendimento, equivocado do meu ponto de vista, que as duas atitudes se complementam, ou de que são parte de uma mesma coisa. Este entendimento serve para confundir ainda mais as coisas, fazendo com que, novamente, o Direito Alternativo ganhe um status que não tem. Em verdade, aqueles que seguem o Direito Alternativo podem, tranquilamente, valerem-se, em sua prática diária, do Uso Alternativo do Direito, mas o contrário não é possível. O Positivismo de Combate não está preocupado em discutir quais as esferas legítimas de produção jurídica. Sua preocupação é a de utilizar as próprias rachaduras do monumento normativo contra a opressão que ele é capaz de infligir.

Por isso, a exploração da dicotomia entre ambas as posturas necessita de maior dedicação. Este texto não pretende esgotar o assunto, muito pelo contrário, é mais um registro de impressões gerais acerca do tema.

Em minha opinião, a confusão reside em uma distinção anterior a esta que precisa ser desvelada. A expressão Direito Positivo tem, hodiernamente, abarcado diversos significados diferentes. O primeiro dentre eles é o de Direito Estatal posto pelos homens segundo as normas de construção jurídica. Seria direito aquilo que esteja juridicizado pelos procedimentos estatais e pronunciado pelo Estado enquanto direito. Este conceito (aqui colocado de maneira extremamente débil) tenta resumir o direito ao que é juridicamente valorado pelo Estado, de acordo com os processos que o próprio Estado criou e que também são jurídicos. Na verdade, quando utiliza-se este conceito faz-se uma oposição direta ao conceito de Direito Natural.

O Direito Natural é uma corrente de pensamento que permeou o conhecimento jurídico durante séculos. Da Antiguidade Clássica ao início da Modernidade ele foi hegemônico nas reflexões filosóficas acerca do fenômeno normativo. Em essência, a teoria do Direito Natural coloca a figura jurídica como existente independente da atividade humana. Aos homens, caberia apenas interpretar a realidade e descobrir o que seria justo a partir da natureza das coisas. A longo dos períodos históricos o Direito encontrava sua origem na Natureza, em Deus, na Razão humana (que era o médium pelo qual os homens interpretavam o justo) etc. Desta forma, a humanidade não era a construtora da justiça, esta já estava posta na natureza, cabia, apenas, desvelá-la. Desnecessário dizer o quanto isto serviu às classes dominantes que, a partir daí, legitimavam sua posição no jogo produtivo das sociedades das quais participavam. O Direito Positivo surge, então, no momento posterior às revoluções burguesas európeias quando a humanidade passa a perceber-se enquanto sujeita de sua história.

Diferente do Direito Positivo no sentido acima descrito, é a Ciência Positivista do Direito Positivo. Apesar da aparente redundância este conceito, também comumente incluído no de Direito Positivo, não é sinônimo daquele. É possível perceber uma clara distinção entre objeto de estudo e método de estudo nesta relação. Se o conceito de que tratam os últimos parágrafos descreve apenas o objeto da Ciência do Direito, o segundo recai, basicamente, sobre o método que esta ciência deve utilizar para o estudo deste objeto. O positivismo científico passa a ser o método de estudo do Direito Positivo. O que significa dizer, passa a ser estudado, o direito posto pelo Estado, de uma maneira coerente com o método de aferição de conhecimento positivista.

Isto significa a construção de um conhecimento que toma enquanto estanque o objeto de estudo. O Direito passa a ser estudado separadamente da Sociologia, da História, da Filosofia, da Psicologia etc. Passa a produzir um ramo autônomo e suficiente de conhecimento. Além disto, o positivismo tráz com ele diversos outros aspectos como, por exemplo, o recuo do cientista frente ao objeto, a neutralidade ideológica etc.

O conhecimento de uma realidade histórica produzido de forma a deslocar seu objeto de suas relações com a totalidade do mundo humano é, claramente, fetichizado. O método positivista serviu, nas diversas esferas em que atuou , da Sociologia ao Direito, para esconder a realidade, enternizar a sua atual conformação (aquela que se traduz na sociabilidade burguesa) e, até mesmo, constituir uma legitimidade científica que lhe foi atribuída falsamente graças à sua pretensa neutralidade. Desta maneira, parece-me, é ao método positivista que devem dirigir-se as críticas de um movimento científico formado por juristas progressistas.

A corrente do Direito Alternativo leva, em última instância, a conclusões muito próximas da Ciência Positivista do Direito Positivo. Apenas como exemplo, é possível citar a eternização da forma jurídica. Tanto os positivistas quanto os alternativistas acreditam que o Direito sempre existirá enquanto existir sociedade humana. A diferença é que os primeiros ligam esta conclusão à de que sempre existirá Estado, enquanto os segundos trazem a reflexão de que o Estado não é necessário para o Direito, e, por isto, este é quem sempre existiu.

Ainda que por via diversa ambos parecem perder a reflexão fundamental a ser feita. Aquela que inclina-se sobre a origem da forma jurídica que só se constitui, em especificidade, com o advento do capitalismo. Quanto a isto, a tese de Pashukanis em "Teoria Geral do Direito e Marxismo" é de fundamental importância. Encontrando na circulação mercantil a necessidade da figura normativa o jurista soviético rechaça, de maneira magistral, qualquer possibilidade de um "Direito Proletário". Com o fim do sistema produtor de mercadorias, deixaria também de existir a própria necessidade que dá bases ao Direito: a de garantia de segurança para a exploração dos negócios. Não é a toa que o livro de Pashukanis foi proibido na União Soviética que, apesar de declarar-se comunista, ainda possuía um imenso arcabouço jurídico-burocrático a sustentar a exploração à qual estavam submetidos os trabalhadores em seu território. No entanto, a História do Direito parece vir a confirmar esta tese. Curiosamente os dois períodos humanos em que o Direito mais se desenvolveu, de forma específica, foram permeados por uma forte atividade mercantil. O mais evidente deles é o próprio Capitalismo. O segundo é a Sociedade Romana, que tinha no comércio um posto avançado de acumulação de riquezas. É evidente que isto não iguala os dois períodos históricos, posto que, na Roma Antiga, o escravismo era ainda a forma predominante de acumulação.

Por estas razões acredito que aqueles que intentem pensar o direito sob um viés realmente transformador precisam voltar suas críticas ao positivismo enquanto método. Desta maneira, poder-se-á abrir caminho para o cultivo de um segundo método de estudo da realidade humana: a dialética. Ou, mais especificamente, o materialismo histórico-dialético. Um método que tem como preocupação básica a construção de um conhecimento que explore o objeto a ser estudado a partir de suas articulações com o todo, e não como se esta fora fechado eternamente em sua própria lógica. Esta me parece ser a questão fundamental a ser enfrentada pela Filosofia do Direito de esquerda atualmente. Enquanto isto, na luta cotidiana contra as opressões do capital, o Uso Alternativo do Direito, o Positivismo do Combate, parece ser a melhor arma à mão dos juristas que se põe ao lado das lutas dos trabalhadores e dos oprimidos. Isto se dá porque, ao reconhecer o papel que os próprios homens têm na construção do ordenamento jurídico, o Direito Positivo dá um passo fundamental na superação do obscurecimento da realidade trazida pelo Direito Natural.



Nova cara do Antes Quixote.

Há algumas postagens atrás eu reclamava que a imagem da identidade visual do blog era demasiadamente grande. Mesmo assim, era a que melhor se encaixava às cores e formas do Antes Quixote.

No entanto, uma boa surpresa me veio a calhar. Em uma noite regada a etanol, o camarada Mário Júnior se dispôs a bolar uma identidade visual para o blog que fosse mais condizente com o seu formato. É lógico, e quem conhece o Mário sabe disso, que não sem antes ficar mais ou menos meia hora reclamando de como grande e feia era a imagem que estava anteriormente no título do Antes Quixote.

Aceitei a proposta, claro, já que também não estava tão satisfeito assim. E também aproveito para declarar que sou um zero à esquerda em edição de imagens qualquer que seja o programa a ser utilizado (CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush, o escambau). Na primeira oportunidade que tive para olhar meus e-mails a imagem atual já estava entre elas. E agora, está no título do blog.

Valeu, Mário!

"O Rito" de Ingmar Bergman

domingo, 11 de janeiro de 2009

Ingmar Bergman sempre foi considerado um dos maiores cineastas da história. Nascido na Suécia, em 1918, é reconhecido, também, por sua capacidade, não apenas qualitativa como quantitativa, de produção. Entre 1945 e 2003 Bergman produziu, pelo menos, 53 filmes, o que nos traz uma média de quase 1 por ano.

O Rito (Ritten), produzido em 1969, é um dos últimos filmes da fase mais experimental do cineasta sueco. Ao lado de Persona e da conhecida Trilogia do Silêncio (com Através de um espelho, Luz de Inverno e O Silêncio), o filme veio em uma das fases de pico de Bergman. É uma peça de difícil compreensão, com diálogos extremamente corridos, personagens bastante perturbadores e enquadramentos claustrofóbicos.

Inédito no Brasil, O Rito foi lançado recentemente em DVD por estas bandas. Concebido para ser publicado diretamente na televisão, foi produzido com baixo orçamento. Talvez por isto sua história tenha sido desdobrada com apenas quatro personagens, pouquíssimos efeitos de tela e nenhuma filmagem externa. Isto não diminuiu sua beleza fotográfica, idealizada por Sven Nykvist, que consegue traduzir de maneira excepcional a psiquê comprimida dos personagens. O filme conta, ainda, com a participação do próprio Bergman, no papel de um padre, que aparece em apenas uma cena e não possui nenhuma fala.

A história se passa em algum país europeu não especificado. Três artistas, Hans Wikelman (Gunnar Bjornstrand), sua mulher Thea von Ritt (Ingrid Thulin) e Sebastian Fisher (Anders Ek), mundialmente famosos, são investigados por um juiz (Erik Hell) sob a acusação de que seu espetáculo conteria cenas de indecência. O juiz, obcecado por seu trabalho, tenta a todo o momento invadir o interior dos artistas, descobrir seus sentimentos, na busca de encontrar a resposta para as acusações sofridas pelos três. As cenas do filme, desta forma, intercalam-se entre interrogatórios protagonizados por Erik Hell e diálogos entre os artistas que servem para externar ao público a forma como se sentem acuados perante as instituições judiciais.

O filme se desenrola com a incessante inquisição levada a cabo pelo juiz, que, de maneira avassaladora, tenta desnudar os sentimentos dos artistas investigados. Suas capacidades, no entanto, encontram-se, frequentemente, aquém do entendimento daquilo que aqueles tentam representar com seu espetáculo, e mesmo acerca do que sentem e como conseguem exprimir tais sensações. Em uma das cenas, Sebastian Fisher, sendo interrogado, declara que acha o juiz um ser repulsivo, incapaz de julgar qualquer coisa acerca da arte pelo simples fato de que sua racionalidade pequeno-burguesa não lhe permitiria compreender o papel desta.

As cenas de Bergman, desta forma, comportam-se como uma sequência de reflexões acerca do papel da arte e dos artistas no mundo. O próprio nome do filme traz à tona esta percepção. De uma forma geral, a arte comporta-se como um momento de reencantamento do mundo por parte dos próprios homens. Uma forma de conhecer a realidade através de uma mitologia criada pelos artistas, que deve servir para trazer ao público cenas de sua própria vida. Na mesma cena citada acima, Sebastian Fisher tenta explicar ao juiz que não possui religião, que ele é seu próprio deus, criador de seus anjos e seus demônios.

A impressão passada pelo filme é a de que o conceito de arte trabalhado por Bergman aproxima-se muito daquele cunhado pelos surrealistas franceses do último século. Nos Manifestos do Surrealismo Breton e seus companheiros afirmavam a necessidade de uma arte libertária, capaz de construir mitos que reencantassem o mundo aos homens. Uma tentativa de destruir a "gaiola de aço" da racionalidade burguesa, imposta pela lógica mercantil, de reencontrar o lugar da imaginação, da inventividade e da psiquê humana, de uma forma que pudesse expressar-se livremente, sem as constrições impostas pela sociabilidade do capital.

Não por acaso, a história do grupo Surrealista francês confunde-se com a da esquerda francesa do século XX. Estando entre os artistas organizados que se filiaram ao comunismo, o surrealismo também esteve entre os primeiros segmentos a romperem com a lógica stalinista dos Partidos Comunistas degenerados pela burocratização soviética. Quanto a Bergman, sua atividade política não esteve entre seus principais feitos, o que fez restar poucas informações acerca da mesma. De qualquer maneira, talvez instintivamente, o conceito artístico passado pelo cineasta sueco demonstrou-se idêntico, no essencial, ao dos artistas franceses da década de 1930.

Assim, é possível notar como a arte, representada pelos artistas de Bergman, repudia de maneira impulsiva a racionalidade burguesa, representada pelo juiz. Os artistas reiteradamente confessam os receios que sentem perante a figura do magistrado. Ainda mais, manifestam sua reupulsa frente a sua forma de agir, pensar e ver o mundo. Não é possível para eles estabelecer uma linha de diálogo entre a arte e a razão desta época. O judiciário, representando a manutenção da ordem, precisa sufocar quaisquer manifestações que contestem-na. A arte, por outro lado, se tomar para si, sinceramente, a responsabilidade de transmitir ao público sua própria verdade, terá de romper com as amarras fetichizadas de uma sociedade que se vale mais da valorização das coisas do que dos homens.

Não por acaso, entre os três atores, Hans Wikelman, o mais racional entre eles, é aquele que melhor consegue lidar com a situação. Hans é tido como o líder da trupe teatral. Ele costuma cuidar dos negócios de todos, tratar com os agentes e advogados, conceber os contratos etc. Em determinada cena, confessa que sente-se, no entanto, menos talentoso que os outros. Com isto, é capaz de utilizar sua inteligência para construir o diálogo mais próximo entre um dos artistas e o juiz. Contudo, apenas aparentemente demonstra-se menos desesperado que seus companheiros. Não conseguindo convencer o juiz a deixar de lado o interrogatório de sua mulher, Wikelman tenta suborná-lo, o que acaba complicando sua situação.

É desta maneira que o filme tenta demonstrar o conflito entre a arte e a ordem. Uma luta de morte que deve refletir exatamente o combate da humanidade por sua própria emancipação. O mais impressionante aspecto de aproximação entre Bergman e os Surrealistas é a forma como concebe a arte como uma maneira profana de iluminar o saber humano. O Surrealismo cunhou o conceito de "iluminação profana" que deveria servir mesmo como uma corruptela da iluminação religiosa. Desta maneira, a arte, constituída pelos mitos conscientemente criados pelo artista, deveria servir para iluminar a realidade frente aos homens. Isto, contudo, não se confunde com o saber religioso, muito pelo contrário, constitui um saber que, inteiramente, coloca o homen como o centro de construção da própria humanidade. A única religião permitida aos homens seria a arte, e os únicos sacerdotes, os artistas. Em uma das cenas de O Rito, Sebastian Fisher confessa a Hans Wikelman que eles são os atores e espectadores de uma mesma peça, o que reflete a identidade entre os sentimentos do artista (humano) e os do público (também humano) iluminados profanamente pela obra de arte.

Com isto, o filme culmina com uma apresentação particular do número cujo qual o judiciário esforça-se por censurar. Os artistas preparam a cena no gabinete do juiz durante uma madrugada. A cena representa um ritual pagão, com forte apelo erótico envolvendo falos falsos e nudez feminina. Durante o número, um dos artistas bebe o reflexo de Deus em uma vasilha de sangue. À medida que preparam e encenam o número, os artistas fazem com que o magistrado perceba sua própria realidade. Este começa a confessar desesperadamente seus medos e receios, seus papéis e incapacidades. Os interrogados trocam de papel com o interrogador e, ao final, Erik Hell encena a morte do juiz por ataque cardíaco. A morte da racionalidade burguesa e o triunfo do saber artístico.

No final, os letreiros indicam que o espetáculo foi censurado, que os artistas foram condenados ao pagamento de multas graças a isto e que nunca representaram novamente no país em questão. O filme de Ingmar Bergman é, desta forma, uma pesada crítica à censura, sem dúvidas. O que o torna ainda mais tributário do pensamento surrealista, que rompeu com o Partido Comunista Francês justamente pelo conceito de cultura stalinista. A censura desdobra-se como esta imposição de verdades fetichizadas à qual a arte não pode atender. Por esta razão, André Breton redigiu junto a Leon Trotsky um manifesto por uma arte independente e revolucionária, onde afirmavam a necessidade de que esta fosse livre de qualquer censura e inteiramente libertária. Em O Rito, Bergman traduz, talvez sem sequer ter lido, este manifesto para a linguagem cinematográfica. Uma peça que reune revolta e genialidade a um só tempo. Uma genial criação de anjos e demônios humanos.


Nota do DCE-UFAL sobre o aumento das passagens em Maceió.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

NOTA DO DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES

QUILOMBO DOS PALMARES

O Diretório Central dos Estudantes Quilombo dos Palmares, entidade representativa do corpo discente da Universidade Federal de Alagoas, vem a público, por meio desta, manifestar seu posicionamento acerca do aumento das passagens do transporte coletivo de Maceió.

O transporte público, por razões sociais, econômicas e ecológicas, deveria estar sempre entre as prioridades das políticas públicas voltadas para o trânsito urbano. Ao invés disto, em Maceió, somos testemunhas de opções acentuadamente voltadas para o mercado automobilístico, como a reiterada prática de obras públicas, por exemplo, que pouco beneficiam a maioria da população. Pouco se investe em formas de transporte econômicas. Não vemos construções de ciclovias ou uma real preocupação com o transporte coletivo.

Ao contrário, sofremos sistematicamente aumentos arbitrários das passagens de ônibus em nossa cidade, que, em apenas seis anos, dobrou de R$ 1,00 para R$ 2,00, penalizando as classes menos abastadas de Maceió. Os trabalhadores e estudantes que necessitam do transporte público são obrigados a pagar caro por um serviço de péssima qualidade. Convivemos diariamente com ônibus lotados, mal equipados, frotas precárias, longas esperas nos pontos por causa do reduzido número de veículos oferecidos pelos prestadores de serviços.

Ainda assim, o governo municipal, aproveitando as festividades de fim de ano, move-se contra a população autorizando um aumento que nos penaliza. Desta maneira, somos obrigados a apertarmos ainda mais nossas contas, enquanto os empresários mantêm os seus lucros.

É o momento de mudarmos esta realidade! O DCE-UFAL, frente a estes fatos, resolve por integrar o Comitê Contra o Aumento das Passagens. Tomamos esta decisão por entender que este Diretório tem o dever de estar entre as fileiras de todas as lutas em defesa dos direitos dos estudantes e daqueles que trabalham. Não podemos continuar pagando o luxo dos empresários. O transporte público é nosso direito, assim como é, também um dever dos governos prestarem um serviço de qualidade.

Aproveitamos para convidar a todas as entidades da sociedade civil organizada para, igualmente, somarem forças a esta luta. Entendemos que estas reivindicações são também das Entidades Sindicais de nossa cidade, bem como dos Movimentos Populares que atuam no estado. Em especial, chamamos à construção deste debate, o SINTTRO, sindicato dos trabalhadores rodoviários, que conseguiu, recentemente, dar alguns passos em direção à sua autonomia sindical frente aos empresários do setor. Convocamos, ainda, os vereadores eleitos no último ano que reivindicavam, para si, o título de representantes da classe trabalhadora e da juventude e que, até o presente momento, não se pronunciaram acerca deste ataque aos nossos direitos.

Não ao aumento das passagens!
Por um transporte público de qualidade para população de Maceió!

Maceió, 05 de Janeiro de 2009.

Diretório Central dos Estudantes Quilombo dos Palmares - Ufal
Gestão: “Amanhã Vai Ser Outro Dia”

Moção do DCE-UFAL de solidariedade a Claudionor Brandão

domingo, 4 de janeiro de 2009

Claudionor Brandão é dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo e operário de manutenção desta Universidade há vinte anos. Recentemente, foi demitido por justa causa pela reitoria da USP. Na alegação, faltas graves do tipo: direção de greves e piquetes na Universidade. O Diretório Central dos Estudantes da Quilombo dos Palmares lançou uma moção de solidariedade a Claudionor Brandão que segue abaixo.



MOÇÃO DE SOLIDARIEDADE DO

DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES

QUILOMBO DOS PALMARES


O Diretório Central dos Estudantes Quilombo dos Palmares, entidade representativa do corpo discente da Universidade Federal de Alagoas, vem, por meio deste, expressar sua solidariedade à luta do camarada Claudionor Brandão frente às medidas arbitrárias tomadas pela Reitoria da USP.

O ataque a Brandão tem contornos claramente políticos representando uma evidente tentativa de desarticulação dos trabalhadores da USP. O SINTUSP demonstrou-se enquanto entidade disposta a construir a luta por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, bem como contra a precarização de suas condições de trabalho. Isto o colocou, e colocará, por diversas vezes em choques diretos contra a Reitoria da USP e os governos neoliberais que tentam submeter a Universidade a uma lógica de mercado, privatizante e destrutiva.

Claudionor Brandão é, desta forma, apenas mais uma vítima das perseguições políticas que têm sido deflagradas nos últimos tempos. Uma demissão por justa causa que alega piquetes e greves como faltas graves é um ataque não apenas ao trabalhador em questão, mas à liberdade e autonomia sindical. É um ataque ao direito de resistência, fundamental à Classe Trabalhadora.

Nestes momentos, a solidariedade de classe, que deve existir entre os que se encontram na mesma trincheira de luta, é a nossa maior arma. Nós, estudantes do DCE UFAL, dedicados à construção de um movimento estudantil classista, intimamente ligado às necessidades e perspectivas dos trabalhadores, nos servimos deste para declarar nossa solidariedade ao companheiro perseguido.

Também desejamos expressar nosso veemente repúdio aos atos arbitrários tomados pela Reitoria da USP, respaldados por seu Conselho Universitário. Para nós, situações como estas apenas somam-se àquelas que servem para provar o quanto a burocracia universitária é capaz de articular-se em defesa de seus privilégios. Demonstra, também, a falta de democracia real não apenas nos conselhos, mas em todas as instâncias das universidades brasileiras.

A luta de um de nós é a luta de todos nós!

Pela readmissão imediata de Claudionor Brandão!

Por democracia real nas Universidades!

Em defesa das liberdades democráticas!

Diretório Central dos Estudantes Quilombo dos Palmares – UFAL


E "só pra começar":

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Nosso prefeito "queridinho", o mais votado entre candidatos nas capitais do Brasil das últimas eleições municipais, já nos entregou um presente de fim de ano daquele tipo que você não consegue dizer nada além de abrir a boca e pensar "mas que bos..."!

Cícero Almeida tem sido, de fato, muito atuante quando o assunto é o trânsito de Maceió. O número de carros nas ruas da capital cresceu bastante (o que deve mudar agora com esse clima de insegurança econômica), o trânsito está cada vez mais insuportável. Mas, não há nada a temer, Cicinho nos trouxe uma solução. Pena que não resolveu mesmo. Como disse meu bom amigo Isaac Calaça: "Pois é, aumentou o número de carros em Maceió, e o que é que o prefeito faz? Constrói viadutos... ou seja... mais asfalto, para ter mais espaço para os carros ficarem parados". Essa pérola de sagacidade se completa com a política de transporte coletivo da prefeitura.

Aumentos pontuais todos os anos, geralmente em épocas em que os estudantes e os trabalhadores estão desmobilizados como o Carnaval, a Semana Santa e, agora, o Reveillon. Preocupação zero com o estado dos ônibus e com uma política séria de fiscalização sobre os serviços prestados à população. Pelo contrário, fiscalizados somos nós, trabalhadores e estudantes que precisam do transporte público para se locomover. Frequentemente precisamos preenhcer novos cadastros e formulários para continuar possuindo o direito à meia-passagem, por exemplo.

É... só lembrando o último post. Espero que o ano comece quente.

Abaixo o link para a matéria do Alagoas 24h sobre o aumento:

http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/index.asp?vEditoria=Macei%F3&vCod=59066


Adeus blog velho...

É isso. Ano chega, ano vai, e as pessoas sentem-se com um espírito renovado, como se um novo ciclo estivesse iniciando. A grande verdade é que estamos há 19 horas dentro de 2009 (enquanto escrevo) e não há nada de realmente novo. Após comemorações animadas e um merecido descanso, resolvi que, de qualquer forma, hoje seria um bom dia para me preocupar com o formato do blog Antes Quixote.

É verdade que ele nem chegou a completar um mês da sua primeira postagem ainda. Mas o antigo modelo do site vinha me incomodando. Acho o fundo de tela branco extremamente cansativo, e como os textos que venho postando geralmente são grandes, seria melhor me preocupar um pouquinho de nada com os poucos leitores do blog... O branco reflete luz demais e acaba cansando muito rápido a nossa visão. Mudei a cor do blog para esta "menos luminosa", deixando a leitura um pouco mais confortável, pelo menos no seu quesito físico.

O tema do blog também é outro. Não estava muito satisfeito com o antigo modelo do Blogger que usava, então mudei para o "Minima", que, apesar de menos vistoso, deixa possibilidades maiores ao autor do blog. Por coincidência a cor que era oferecida em uma de suas versões casou muito bem com o que eu estava imaginando. Então, depois de alguns testes e "vais-e-vens", eu decidi por este presente modelo.

Falando em poucos leitores... o blog agora tem um contador de clics, que provavelmente não vai rodar muito, porque eu simplesmente não tenho nenhuma paciência em ficar publicizando ele. Na verdade, fiz o blog pra compartilhar estes textos e impressões gerais sobre as coisas. Não sou, nem quero ser, nem publicitário, nem spamer, mandando e-mails para as pessoas enlouquecidamente. O contador fica no fim da página.

Também coloquei uma identidade visual no blog, que não existia antes. É verdade, ficou muito grande. Mas não achei tão deslocada da página de uma forma geral. A imagem escolhida possui uma tonalidade perfeita para o estilo com o qual o blog entra em 2009.

No mais, já que todo mundo (e o Antes Quixote também) está com esse clima de renovação, espero que 2009 venha com tudo. Que seja um ano de muitas conquistas para aqueles que realmente as merecem: os trabalhadores. Tudo indica que teremos um ano quente. E isso vem do calorzinho das fogueiras de Atenas que já se faz sentir entre nós.

Quanto ao Antes Quixote, bem... o que dizer? Pelo menos, em objetivo, desejo que ele continue sendo essa pequena pedrinha em nosso combate diário. Que procure, como vem tentando ao longo de suas postagens, discutir um pouco acerca deste combate. Sem dúvidas, ele não vai recuar na luta contra o famigerado Moinho de Vento de nossos tempos.

Feliz 2009... que ele seja um ano "quente"...