Dois anos de Quixote

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dois anos de Quixote


Em 8 de dezembro de 2008 postei o texto Antes Quixote! neste endereço. Passaram-se dois anos quase desapercebidamente. Pensei que seria justo uma postagem para não deixar a data passar em branco.


Contudo, vem a questão: o que escrever em uma postagem comemorativa? Não sei muito bem se há algo a ser comemorado de fato. Em dois anos, segundo o contador do histats, chegamos a pouco mais que 7000 visitantes. Não é uma marca e tanto. Alguns blogues por aí a conseguem em uma média de meses. É verdade que é preciso levar em consideração que o Antes Quixote nunca teve uma divulgação digna de ser chamada dessa forma. “A gente vai levando” a página. A cada vez que aumentava um número no item Como Sancha Pança, de seguidores, era uma surpresa. Hoje são 24, se não estou enganado, entre amigos blogueiros e pessoas que não conheço pessoalmente.


O número de leitores, portanto, não é nenhuma conquista fundamental, mesmo levando em consideração a pouca publicidade. Mas, se penso no motivo pelo qual resolvi criar o blogue, a coisa parece melhorar de perspectiva. O lema que serve de subtítulo ao mesmo (sandices e desventuras) parece continuar atual. Não por qualquer coisa. Há dois motivos principais para isso.


O primeiro tem a ver com a coerência que penso ter sido mantida nas postagens que aqui se encontram. Quando o blogue foi criado, o seu objetivo era o de apresentar algumas discussões que destoassem do que geralmente se posta em um sítio como este. Não era para servir como um diário, ou como uma página leve de piadas, contos da vida, enfim, nada disso. A ideia era trazer algumas discussões que fossem um pouco mais profundas. Em geral, no limite das capacidades do autor.


Fazer discussões que casassem os estudos de filosofia com comentários acerca do quotidiano, podemos dizer, maluco que aparece pelas telas de TV, cinema etc. Nas linhas que foram publicadas aqui, tentou-se discutir acerca de filmes, notícias, eventos etc., mas com uma preocupação de colocar em questão a perspectiva de mundo que eles apresentavam. De tentar fazer com que a digestão que costumamos fazer de cada um deles não fosse automática e irrefletida como é comum. Mas que aproveitássemos as expressões que eles representam para criticá-las e compreendê-las. E por que isso? Porque pensamos que a crítica do quotidiano é cada vez mais necessária em um tempo em que tudo parece perder sentido.


Tem a ver com o segundo motivo pelo qual o lema continua valendo. Durante estes dois anos muito e nada de espetacular aconteceu. Bem, de fato é contraditório. Aconteceram várias coisas importantes é verdade. Desde uma crise econômica mundial, greves gerais na França, insurreições populares na Grécia, a vitória de um presidente negro nos EUA e uma mulher no Brasil, coisas que puxei em uma rápida piscadela da memória. São grandes fatos. Mas nenhum deles foi grande o suficiente para fazer com que as coisas que são ditas aqui no Antes Quixote deixem de soar, para a esmagadora maioria das pessoas, como sandices e desventuras. Ou como anacronismo, para usar um termo respeitoso.


Em suma, a crítica do quotidiano continua ser necessária, porque ele continua exatamente como está desde que o blogue foi criado. Evidente que ninguém esperava que, em dois anos, a realidade mudasse de maneira tão profunda que o lema do Antes Quixote se tornasse ultrapassado. Mas às vezes é importante repetir o óbvio. Principalmente quando se trata de uma obviedade que costuma permanecer encoberta nas horas que se arrastam dia após dia.


O principal não mudou, está claro, mas algumas coisas devem mudar. Nunca foi objetivo do Antes Quixote ser um blogue pessoal, como aqueles que falam mais da vida de seus autores do que de qualquer outra coisa. Mas o fato de ele ser alimentado por um único autor acaba contribuindo para que as mudanças pessoais do mesmo representem mudanças do blogue. Às vezes sentidas nas opiniões apresentadas, às vezes na dinâmica própria do sítio, no tempo de postagem, nos temas discutidos e em uma série de outros fatores.


O ano de 2010 representou um diferencial no Antes Quixote se comparado a 2009. Foram, penso, um em torno de trinta postagens a mais, entre textos próprios e discussões trazidas de outros locais a serem divulgadas. É um salto qualitativo, pois houve mais dedicação com a página, ainda que ela nunca tenha sido o quanto é devido aos leitores. Peço desculpas por isso. Gostaria de prometer que 2011 será diferente. Mas correria o risco de estar mentindo.


No próximo ano enfrentarei uma mudança intensa de rotina, da qual ainda não tenho muito vislumbre em relação à sua extensão. Vou passar a integrar um programa de mestrado, desenvolver uma dissertação com tema A Crítica da Democracia e do Direito no Jovem Marx e, o que é mais importante uma mudança de cidade e estado. É fato que a maneira como uma pessoa vê o mundo passa por grandes transformações com tudo isto. Não será diferente aqui. E penso que é quase impossível que isso não se reflita no Antes Quixote.


Um projeto, contudo continua de certeza: lutar contra os moinhos de vento de nosso tempo, que são grandes, e têm se multiplicado a cada dia. Seremos tão quixotescos quanto antes, e teremos ainda menos vergonha disso. Afinal, parafraseando aquele filme do Walter Salles: “em terra de cego, quem tem um olho... é doido”.


Por fim, gostaria de agradecer aos leitores e camaradas que comentam os textos ou não. Com comentários públicos na página, ou mesmo nas mesas de bar. E agradeço especialmente à Shu, que está sempre com muita paciência para ouvir todas as ideias mirabolantes que aparecem para o Quixote, inclusive aquelas que são muito ruins, e dar opiniões geralmnete mais racionais sobre quase tudo, desde os temas dos textos, até a identidade visual do blogue.


Um feliz 2011 para todos!

Parabéns ao Antes Quixote pelos dois anos!

1 comentários:

Shuellen disse...

Parabéns pelos dois anos de blog, não é facil manter um blog com publicações periódicas, como este, ao longo de dois anos. Espero que continues a divulgar as "sandices e desventuras" por mais anos. E vou estar aqui sempre para dar pitaco e ouvir suas "ideias mirabolantes". Beijos