Sobre os debates de ontem

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre os debates de ontem

Ontem aconteceram dois debates (que deveriam ser) importantes para os eleitores alagoanos. Não tenho aqui a intenção de discutir profundamente ambos, mas apenas fazer breves comentários do que há de geral em relação a eles. Breves e, diga-se de passagem, bastante lacunosos.

O primeiro foi o debate de presidenciáveis com edição especial para a região Nordeste, realizado pelo SBT, em uma atitude pioneira. Pioneira, ressalte-se, somente no que diz respeito a isto. No que se refere à forma excludente como os debates das TV’s abertas são geralmente organizados, nada foi inovado. Apenas os candidatos cujos partidos têm representação parlamentar foram convidados, o que, de nove pretendentes à presidência, deixa cinco de fora. Há quem diga que isto é democrático.

Mesmo assim, apenas três candidatos participaram. Dilma (PT) não apareceu. E foi risível ver o Serra (PSDB) dizendo que em “sua reforma política”, será proibido aos candidatos faltarem aos debates. Bem, garanto que Zé Maria (PSTU), Ivan Pinheiro (PCB) e Rui Pimenta (PCO), estariam felizes em participar! Ou seja, a proposta tucana, oportuna, sem dúvidas, reveste-se de democrática, mas não toca no real caráter profundamente excludente da lei eleitoral que não obriga as emissoras a chamarem todos os concorrentes para participarem. “Eleição é chato? Paciência!”, disse ainda o tucano!

Outra “velha novidade” apresentada durante o debate foi uma tendência, alimentada não só por candidatos, mas também pelas regras do debate, pelos jornalistas e internautas que intervieram e, diria até, pela platéia: o Nordeste só pode ser discutido em termos “técnicos”. Foi incrivelmente entediante ver, especialmente no que diz respeito a Marina Silva (PV) e Serra, uma troca de propostas “concretas” reeditadas pela enésima vez como: “SUDENE nos moldes do Celso Furtado”; “saneamento para 30 milhões de pessoas”; “unidades de saúde” etc. As dificuldades nordestinas acabaram sendo utilizadas para escamotear os temas mais importantes de debate, esvaziando todo o conteúdo do mesmo. Um belo exemplo de redução da política às fronteiras do “factível”. O problema, é que uma mudança estrutural é, desde logo, colocada fora das regras do debate.

Não por acaso o candidato Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) tem cumprido um papel amargo em suas participações. Ele vem desempenhando a função do “abstrato”, “ideológico”, no significado mais vulgar dado pela mídia cotidiana a estas palavras. Plínio não tem a intenção (e de fato não deveria) de reduzir seu debate à discussão de como fazer “isso ou aquilo”. Em entrevista depois do debate, ele resumiu bem: “Não sou engenheiro!”.

O outro lado da moeda é que esta postura tem rendido a ele um destaque em relação aos demais debatedores. Sem dúvidas, Plínio se tornou a sensação dos debates presidenciáveis como a “outra cara” da política no país. Uma “cara”, por sinal, que costuma ser deixada de fora pelas regras eleitorais (retornando ao princípio do texto). O problema, é que, no debate acerca do Nordeste, a tônica “tecnicista” que tomou conta do palco acabou deixando-lhe, por vezes, um tanto acuado. Ainda assim, as melhores intervenções foram as suas. Para ressaltar uma em especial: em resposta à pergunta do Serra sobre qual seria o pior problema do Nordeste, Plínio, sem titubear denunciou as oligarquias da região que hoje têm representantes em todas as três campanhas majoritárias. De quebra, ainda colocou, verdade que com um pouco de atraso (isso foi apenas em outra pergunta), a necessidade da reforma agrária para acabar com a força política destas famílias, advinda da forma econômica atrasada nesta parte do país baseada no latifúndio exportador desde as capitanias hereditárias.

Mas Plínio chega a decepcionar em alguns momentos. Não vai a fundo em muitas das questões. Ranço do espectro recuado do PSOL que acaba por pesar em sua campanha. Falo, por exemplo, das propostas de estatização com indenização (como o disse na sabatina do R7), ou da promessa de “pagar a dívida para pequenos credores” (entrevista para o Jornal Nacional), ou mesmo da quase renúncia em denunciar a forma antidemocrática dos debates na TV (chegando mesmo a chamar alguns de democráticos). O que acho pior é sua insistência em convidar seus concorrentes a “firmar compromissos em torno disto ou daquilo”. Ora, Plínio, nenhum deles vai deixar de pagar a dívida pública e você sabe disso, vale mais a pena aproveitar o curto tempo de debate para apontar isto do que esperar que eles respondam.

Os piores momentos, contudo, ficam para Marina Silva (e bem que gostaria dar este “troféu” para o Serra). Mas ontem, como nos outros debates que tive oportunidade de assistir, não via a ex-petista fazer mais do que dizer que “passou fome”, que “já foi atendida pelo SUS” e se credenciar com um discurso melodramático e inteiramente pessoal para governar o país. Marina esconde seus planos de continuidade do que ela chama de “dezesseis anos de melhoria” atrás de uma mudança absolutamente transversal e, esta sim, abstrata na política ambiental. A candidata chegou ao ponto de dizer que vai resolver os problemas de falta de recurso para as políticas públicas do país “enxugando a corrupção”, que segundo ela própria toma do orçamento “5%”. Alguém avise à Marina Silva que 37% do orçamento de 2009 foram empregados no pagamento de juros da dívida pública. 5% não dão para o gasto, ministra!

Serra foi tão apagado que sobra pouca coisa para comentar dele. Em absolutamente nenhum momento ele discute questões de fundo, rebaixando tudo para o campo da técnica (de forma mais competente que a Marina, é verdade). Fora isso, é tentar bater na candidata do PT para ganhar alguns dividendos eleitorais. O tempo inteiro o discurso dele volta para a questão da corrupção.

O debate terminou com Marina dizendo que tinha raízes nordestinas para coroar o seu fraco desempenho totalmente baseado em um discurso vazio como este. Serra, por sua vez, falou que cresceu em um bairro operário de São Paulo e, por esta razão, conhece a vida de nordestinos “como ninguém”. Plínio, em mais uma de suas tiradas, disse logo que não tinha origem nordestina nenhuma, mas que a sua perspectiva política era a perspectiva dos explorados e, logo a dos habitantes pobres da região. Contudo, terminou pedindo voto para Heloísa Helena, colando sua imagem na da alagoana concorrente ao senado. Atitude que ela, aliás, tem evitado em relação ao presidenciável do partido em sua campanha estadual. O que parece em parte ser ranço de suas declarações de apoio à Marina durante todo o período pré-eleitoral somada à tentativa de isolar internamente a esquerda do PSOL (hoje representada na candidatura à presidência), em parte tentativa de não se desgastar com uma “inconveniente denúncia” do governo Lula frente ao seu eleitorado que inclui, surpreendentemente (ou não), votos em Ronaldo Lessa e Dilma.

Pouquíssimos minutos depois desta bela peça política, mudando de canal, era possível acompanhar o debate para o governo de Alagoas. Este, por sinal, um tanto mais interessante do que se podia esperar.

Em um tom geral, as coisas iniciaram com um debate restrito às questões técnicas do estado. Eram milhões para lá, computadores para cá, ambulâncias que vinham, viaturas que iam etc. No entanto, no decorrer das disputas, o tom geral foi descambando (e esta é, de fato, a melhor palavra) para troca de acusações.

Teotônio Vilela (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT) foram campeões no debate policial. Não se trata da discussão para resolução dos problemas da segurança pública, no entanto. Trata-se da discussão de “quem mente mais”, “quem é mais processado”, “quem tem mais culpa neste ou naquele problema do estado”.

Fernando Collor (PTB), por sua vez, bem que tentou ficar de fora destas questões. Porém, foi frequentemente lembrado de seu passado, seja como prefeito, governador, deputado, senador e mesmo presidente. Em nenhuma destas passagens, diga-se de passagem, o candidato deixou de pôr a sua marca (que não é das melhores), como lembraram os outros debatedores.

Mário Agra (PSOL) e Jefferson Piones (PRTB) foram os mais apagados, especialmente o primeiro que teve um fraco desempenho. O destaque, foi para Tony Cloves (PCB) que chegou a ser ovacionado mesmo na grande mídia do estado e da internet.

O sertanejo virou um dos assuntos mais comentados no Twitter, depois de suas intervenções contra Téo, Lessa e, principalmente, Collor. Cloves, demonstrou uma presença de espírito que, confesso, não esperava, mesmo conhecendo-o pessoalmente depois de algumas atividades do PCB-AL nas quais estive presente. De qualquer maneira, a tristeza é que não conseguiu esgrimir um programa que aponte para uma superação radical dos problemas alagoanos. O comunista resumiu-se a denunciar os crimes de mando, as campanhas bilionárias e as falcatruas de todos os tipos no estado. Coisa que o próprio Piones também fez. Além disso, propôs um programa de apoio ao pequeno empresário, bem diferente, por exemplo, da reforma agrária defendida por Plínio do debate anterior. Aliás, sua referência à Barack Obama e Lula, no final, não foi nada de esquerda e muito pouco respeitosa com Jayme Miranda e Freitas Neto.

Faltou a apresentação de uma alternativa real no estado. Uma que se coloca “fora das regras do debate”, como Plínio tenta fazer. E coloco isto, mesmo levando em consideração a alcunha de “Plínio alagoano” que Tony Cloves acabou “afanando” (no mesmo sentido de “roubando a cena”) de Mário Agra, psolista do estado. Desta vez, não podemos nem mesmo culpar a mídia, pois a TV Pajuçara convidou todos os candidatos a participarem. O diagnóstico que se pode apreender é que falta, na verdade, uma organização real das forças populares em Alagoas. E infelizmente isto não se resume às eleições.

1 comentários:

Shuellen disse...

Só eu não vi o debate para o governo...=/ Maldito sono!!
Gostei do texto!
=)