Amor nos tempos do chifre.

sexta-feira, 20 de março de 2009

"TRAÍDO PELO AVANÇO DAS MULHERES: O rapaz comemorou quando sua namorada conseguiu um bom emprego. Mas, de repente, ela passou a viajar a trabalho e fazer hora extra. Foi assim que ele veio parar aqui".

Esta é a legenda da primeira figura da reportagem da coluna "Gente" da edição de Março da revista Super Interessante. Na imagem, um jovem pendurado como trófeu de caça com dois chifres enormes na cabeça. O título da reportagem é o mesmo que o deste post e está entre as páginas 70 e 75 da revista.

A matéria começa com um comentário sobre o Ashley Madison, um site de relacionamentos canadense que tem como objetivo principal conseguir amantes para pessoas casadas. O site havia posto um out-door na Times Square em NY com os seguintes dizeres: "A vida é curta. Tenha um caso". É óbvio que o público conservador americano não aceitaria aquilo por muito tempo. Hoje, o site tem seus anúncios reiteradas vezes negados na grande mídia dos EUA.

A partir daí, o texto segue uma linha em que busca demonstrar que as pessoas nunca pularam tanto a cerca quanto agora. Entre os motivos, a matéria elenca o avanço tecnológico em relação à internet e à qualidade de vida humana. Chama atenção porém, como ela enfatiza o papel da mulher nesta evolução. Em uma sessão especial da reportagem, com título "A morte da Amélia", a S.I. vai tentar nos provar como a "emancipação feminina" tem contribuído para aumentar a "dor de cabeça dos homens".

São, portanto, dois problemas fundamentais que se podem encontrar nesta perspectiva. O primeiro, o de que as mulheres estariam emancipadas. Ora, sengundo a revista, o fato de conseguir chegar ao mercado de trabalho pôs, finalmente, ou tem posto as mulheres em igualdade aos homens. Isto significa que estão cada vez mais independentes e livres. Nada mais ilusório. A Super Interessante ignora completamente o fato de que o aumento da mão de obra feminina é um reflexo cruel da forma como o Capital tem se organizado atualmente.

Desde a década de 1970 o capitalismo tem buscado reestruturar o seu campo produtivo na busca de uma acumulação mais flexível, ou seja, que possa aumentar e diminuir os custos da produção ao sabor de suas necessidades. Isto significa encontrar condições cada vez mais favoráveis para a demissão e precarização da força de trabalho. Neste contexto, o contigente de mão de obra feminino aumentou consideravelmente chegando a atingir uma média de 50% dos prestadores de serviço em vários países.

É evidente, que isto também é um reflexo das mobilizações feministas do fim dos anos 1960. O que acontece, porém, é que o Capital soube como instrumentalizar esta movimentação e adequá-la às suas necessidades. Não por acaso, os postos de trabalho ocupados pelas mulheres costumam encontrar-se em estado de precarização muito mais avançado do que os dos homens. A trabalhadoras do setor informal, que não recebem direitos trabalhistas ou previdenciários, contam um número muito maior do que os homens sem carteira assinada. No fim das contas, as trabalhadoras recebem, em média, um salário aproximadamente igual à metade que o de seus companheiros homens. E, não bastasse, precisam cumprir uma segunda jornada de trabalho cuidando das tarefas domésticas que ainda se concentram muito em sua figura.

Falar de emancipação da mulher, então, é uma cruel falsificação da realidade. Aliás, falar em qualquer emancipação dentro da ordem do Capital é uma tentativa risível de legitimação da ordem injusta em que vivemos. Mais irreal ainda, é falar da emancipação da mulher como se esta não estivesse separada em classes sociais. Em resumo, a mulher da qual fala a Super Interessante é aquela da classe média alta, com condições de estudo e de ascensão profissional, que não deixam de ser oprimidas pelo machismo, mas não são exploradas como as mulheres das classes com menos poder econômico.

O segundo problema é a seguinte forma de pensar as coisas: as mulheres estão mais emancipadas, logo, estão mais independentes dos homens, logo traem mais. A isto se casa uma perspectiva anterior, que funciona como um argumento de fundo da matéria: o padrão a ser seguido pelos relacionamentos humanos é a monogamia, qualquer coisa para além disto é anormal e, por isto, reprovável. A reportagem é finalizada aplaudindo a idéia de que a "fidelidade" ainda é importante para um relacionamento na opinião da maioria das pessoas. Não bastasse, ainda mistifica o exemplo de Sartre e Simone de Beauvoir dizendo que viviam em harmonia com seus "casinhos", quando na verdade este tipo de relacionamento se caracterizava como uma opção consciente dos filósofos franceses, e não mera tolerância a algo que não podiam evitar.

Assim, a conclusão à qual chega a S. I. é a de que, o fato de as mulheres se encontrarem mais independentes (na verdade, de finalmente conseguirem ser tão, ou mais, exploradas pelo Capital do que o homem no setor direto da produção) tem contribuído para o maligno rompimento do padrão da monogamia burguesa. Nada é citado acerca do comportamento que os homens têm desde que o casamento monogâmico tornou-se o modelo a ser seguido no mundo ocidental. É engraçado, aliás, ver como reportagem se contradiz com seus próprios gráficos: em um deles ela afirma que na idade de 26 a 40 anos 67% dos homens declaram já terem traído sua companheira, enquanto 46% das mulheres fazem o mesmo. Na idade de 51 a 60 anos as proporções são de 71% para eles e de 29% para elas. Ainda assim, a revista afirmar ser a mulher a principal protagonista deste "boom" de "puladas de cerca". Não tem como ser mais tacanho do que isso.

Por fim, para explicar as origens da traição, a Super Interessante faz o que qualquer discurso burguês básico costuma fazer: naturalizar as relações humanas. Com a citação de vários cientistas, ela chega a conclusão de que a infidelidade é uma ferramenta da evolução, posto que é capaz de aumentar a variedade genética da espécie humana. Assim, cito literalmente as palavras da revista: "Os homens estariam liberados para espalhar por aí os bilhões de espermatozóides que produzem por mês, e as mulheres poderiam conseguir proteção e comida extras para seus filhos com o apoio de um amante". E conclui: "Ok, o cérebro nos liberou para chifrar". Mas, rapidamente volta a enteder os seres humanos como históricos no momento de, mais uma vez, defender o modelo monogâmico. Ou seja, qualquer macaco adestrado com um pouco mais de atenção é capaz de perceber que a revista não sabe do quê está falando.

Comentários acerca da construção histórica do amor monogâmico, baseado no domínio da propriedade privada por parte do patriarcalismo, em oposição ao matriarcado das sociedades sem classes primitivas, como uma forma de garantir a conservação do acúmulo de riqueza através dos direitos sucessórios, é claro, não serão encontrados nas páginas da Super Interessante. Assim, a origem da opressão da mulher no mundo contemporâneo é mistificada e perdida em algum lugar da história. Ao invés disso, temos uma naturalização das relações construídas historicamente pelos homens que busca a legitimação da ordem posta. E, "de quebra", a revista aproveita para bestializar a figura feminina, lembrando a Inquisição Medieval quando a colocava como o objeto do pecado do homem. A mulher continua, por via diversa, sendo vista como a tentação, como objeto de desejo e apenas isso.

Uma bela homenagem da Editora Abril ao 8 de Março e à luta por igualdade empreendia pelas mulheres.


Se for se despedir do PT aproveite e o faça com um sorriso nos lábios!

terça-feira, 3 de março de 2009

Ok! Nada de realmente importante. Apenas algumas tirinhas impagáveis que encontrei na internet e que merecem toda a divulgação possível.

Em www.malvados.com.br pode-se encontrar vários quadrinhos de fazer você rachar o bico. Aqui vão alguns dos meus favoritos. A maioria das tirinhas não tem um tema diretamente político, mas todas apresentam uma visão cruelmente realista sobre as pessoas comuns de nosso mundo. As tirinhas são de André Dahmer.

As que escolhi contam uma parte importante da história política recente do Brasil. O necessário "Adeus, PT" (para lembrar aquele filme: "Adeus, Lênin") é demonstrado com um tom bem(mal) humorado por estes personagens com uma incômoda sinceridade.

Já que estamos em um período de reorganização da esquerda no país, graças ao esgotamento do ciclo PT, que ainda levou de vez para o buraco a UNE e a CUT, completamente atreladas ao Governo Lula, vamos tentar tirar algo de bom disso tudo. Tudo bem que a classe trabalhadora esteja anestesiada, que os movimentos sociais estejam completamente desnorteados e que a intelectualidade se encontre frente a grande perplexidade... Mas nada significa que não possamos, pelo menos, rir disso... então, aí vai:

(clique nas imagens para ampliá-las)